segunda-feira, 14 de maio de 2012

Portugal outlet

Gostamos muito de marcas. Não lavo os dentes mas os meus ténis são ...
A minha mãe foi obrigada a dar-me um ... phone senão zangava-me com ela;
As parcerias público-privadas são uma boa marca mas, na maior parte dos casos, tem defeito;
as bengalas dos cegos que mendigam no Metro são cabos de vassoura e percutem no chão agradecendo a esmola da troika;
temos um primeiro ministro autêntico, um jota genuíno, um total incompetente mas com defeito no que respeita aos discursos do desemprego e outros;
também temos um PR perfeito, totalmente banal e originalmente português mas, lá está, tem defeito, tem o defeito de dizer coisas ocas e saltitantes, tem o defeito de nos envergonhar cada vez que abre a boca salivante;
o povo português é, em regra, cortês, hospitaleiro, gesticulador mas, enfim, tem um defeito, fala alto demais e cala-se quando não devia;
a justiça é do melhor que há. Gente séria, trabalhadora mas... tem defeito, o defeito da prescrição. Não sendo isso ninguém a quereria;
tentamos vender o melhor país ao melhor preço mas ninguém nos quer, os mercados não nos querem. Estamos a ser postos à venda no mercado errado. Se nos colocarem no mercado outlet, seguramente que seremos vendidos depressa com lucro defeituoso é certo mas, apesar de tudo, lucro;
dizem que se vende gato por lebre mas eu acho que é uma afirmação errada: vendemos apenas lebre outlet, com um pequeno defeito nas orelhas. Não há gato aqui e, se houvesse, teria um pequeno defeito. Qualquer advogado inteligente usaria esse pequeno defeito para protelar a afirmação “gato por lebre” e arrastá-la, décadas em sérios e competentes tribunais nacionais;
acho que chegou a altura de encontrar um blog outlet!

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Cidade dos mil lagos

Lisboa quer competir com o país dos mil lagos. Saudável e inovadora atitude. Não temos NOKIA mas temos calçadinha à portuguesa onde pousam, cada vez que chove, os tais mil lagos. Atrevo-me a dizer que são mais de mil e aí já ganhámos ao país das renas. Cada vez que chove esta cidade fica intransitável para os peões. A culpa é deles que andam a pé, andem de carro como toda a gente e já não teriam que fazer malabarismos e coreografias em palco de passeios revestidos da tal calçadinha à portuguesa que faz a delícia dos turistas em tempo seco. Recomendo aos calceteiros um cursozito de formação extensível aos fiscais e aos engenheiros das várias especialidades camarárias. Um cursozito de compactação de pavimentos para ver se conseguem fazer um piso liso. Eu sei que é difícil fazer um piso liso, sem buracos, sem mil lagos mas podiam tentar. Estenderia este cursozito de compactação de pavimentos aos patos-bravos, empreiteiros e também fiscais e engenheiros que se ocupam de alcatroar as ruas. Com o qualquer lisboeta sabe, quando chove não nos podemos aproximar da estrada porque há outros lagos, que afundam o pavimento junto aos passeios e que provocam grandes molhas e impropérios contra os automobilistas. Este cursozito também se destinava a poderem fazer, os tais construtores, um piso liso. A melhor solução em todo o caso seria rebentar com a calçada à portuguesa e colocar pavimento tipo parisiense, liso, agradável, antiderrapante e esteticamente muito razoável. Resolveram assim depois dos pavés de Maio 68. Os policias levaram tanta pancada com a “calçadinha” parisiense que o estado resolveu acabar com o pavé pela raiz. Bendita a hora. Se os portugueses seguissem o exemplo nas próximas manifestações e arremessassem calçadinhas aos policias podia ser que os lisboetas pudessem ter, finalmente, um piso liso e agradável de caminhar. A cidade além de estar degradada verticalmente já nem na horizontal se safa. Só lamento que se possa mudar de nacionalidade e não de naturalidade.